sábado, 13 de março de 2010

Eu descobri que tô nessa pelo medo de ser feliz. Se eu fosse, mudaria tudo. Mudaria para uma realidade que não saberia viver. Não sei o que é não ter problema. E quero continuar assim. Enquanto o sol entra pelas persianas nuas eu estarei vivo lá dentro e quando a noite cair eu vou virar essa carga humana rastejante, pensante, cansada. Eu não vou procurar o doutor, não vou me drogar, não vou sair dessa, não quero. E se for pelo bem, que eu termine só, que termine. Porque essa cabeça já abriga tantos loteamentos de lembranças e demandas que sinto como se não houvesse lugar para mais nada. E o que já existe está mal administrado. O problema nesse ponto é quando as coisas não dizem mais respeito apenas a mim e eu começo a cortar a quem me abraça e isso é uma dor insuportável. Eu corto seus intestinos e o sangue jorra de mim (Tarantino). Enquanto você chora eu sinto estar morrendo e isso me dói, não por mim, mas por saber que isso também aprisiona uma parte sua, que não deveria ver nada disso, que não queria estar vivendo isso. Ao mesmo tempo eu imagino a hipótese de me desligar, sinto também o medo da incerteza de ser um passo errado que vai durar para sempre e eu fico nessa paranóia.

Fico pensando "só mais cinco minutinhos" e durmo o dia inteiro. Porque eu tento levantar, olho para as minhas pernas que não se movem. Minha vista embaça, eu enfim pulo da cama mas caio de novo... Tontinho, sem conseguir pensar direito e durmo. E horas depois penso "só mais cinco minutinhos" e fico de olhos fechados chorando por dentro. Repassando todas as minhas obrigações, todos os furos que estou dando com esses minutinhos a mais só para mim e sinto vergonha. Eu enrolo tudo, sento para produzir como se fosse o último dia da minha não vida e tento compensar a falha da manhã. Chego em casa como se tivesse acabado de ser estuprado. Me encolho e olho por tempos as paredes tentando pensar em não pensar. Tomada 2. A angústia me come morto. As coisas acontecem tão rápido apenas em um dia... Um dia é tão curto e daqui a pouco vai nascer e tudo volta outra vez. Parece que vivo o mesmo dia há anos e não consigo sair. Como se fosse uma história de feitiço de um livro antigo que deu certo e eu me fudi! Estou preso.

Eu queria sair, Senhor. Não há forças, expectativas, apego, zelo, ego, amor. Aqui só habita o amargo, o azedo, o cinza. Cinza é a minha cor preferida. Vivo na dimensão do cinza. Apaguei as velas do último aniversário desejando não existir mais, mas como a incapacidade bate a porta, é claro que o pedido encontra-se a ser realizado. As próprias mãos não ousam tentar porque há medo de deixar de existir aqui, mas continuar existindo em outro lugar. Não existir é bem simples, é só desaparecer para sempre. Botão direito, excluir, lixeira, excluir do HD. Sonho com o dia da dormida que não vai acontecer o erro do acordar. O dia que nunca mais vai nascer, se Deus quiser. Porque eu já quero desde muito tempo. Odeio a palavra tempo. Não o quero, chega de farsa.

Um comentário:

Chico Mouse disse...

Um dia as coisas melhoram... pena que é só um dia. :/