terça-feira, 22 de setembro de 2009

Curriculum Vitae

Eu já dei risada até a barriga doer, já nadei até perder o fôlego, já chorei até dormir e acordei com o rosto desfigurado. Já fiz uinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho e até já brinquei de ser bruxo. Já quis ser violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone, já tomei banho de chuva e acabei me viciando.

Já roubei beijo, Já fiz confissões antes de dormir num quarto escuro pro melhor amigo. Já confundi sentimentos, peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba apressado e já chorei ouvindo música no ônibus. Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí da escada de bunda. Conheci a morte de perto e agora anseio por viver cada dia.

Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre e voltei no outro instante. Já saí pra caminhar sem rumo, sem nada na cabeça, ouvindo estrelas. Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir os meus lábios dormentes, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar.

Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade. Já deitei na grama de madrugada e vi a lua virar sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.

Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção guardados num baú chamado coração. E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: "- Qual sua experiência?", essa pergunta ecoa no meu cérebro.
"Experiência...experiência...", será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!
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Eu tenho esse texto há anos guardado no meu pc. É da época do começo da minha adolescência. Achava tão lindo e, como todos os meus documentos são uma bagunça e possuo uma infinidade de pastas, nunca mais o tinha visto. Mas hoje, por acaso, eu o achei... lembrei dia desses e até pensei que não tinha mais... a linguagem é simples, bem adolescente e objetiva... eu gosto... poderia estar com uma escrita melhor, mas desse jeito já está ótimo. Pena que não sei o nome do autor, mas é isso. É muito fácil de se identificar.

2 comentários:

Paulo Victor disse...

sim. a vida é bem assim mesmo. e daí, pensando nisso muitas vezes implico com as pessoas. Só por dar maior importância ao que já passou. O que fica na memória e não sai mais, saca?
Mas cada um tem a sua verdade e segue e acredita no que quiser.
Tipo assim, no futuro.. que as vezes - muitas vezes - nem sequer chega.

Karen R² disse...

Meu blog tinha textos "antiguinhos", adoro ter que descobrir quem realmente é o autor do texto, o mais legal foi o Quase que era repassado como sendo do Luis Fernando Veríssimo, e ele postou uma cronica sobre isso no jornal.

Do jeitinho que ele está mostra uma fase da vida, que já passou e que poderia ter sido melhor, poderia ter sido diferente... Mas que acabou sendo boa na medida do possível, aprendemos com os momentos difíceis e guardamos momentos felizes...