Acordei vomitando, acordei pela tarde vomitando meus medos. Sonhei com a morte dela, com a ida daquela que me pariu. Tive um sonho dentro de um sonho, não entedia nada e não sabia o que fazer. Juro que não sabia que ainda estava dormindo. Fiquei horrorizado, não entendia nada. Tinha tanto ainda a ser feito, tinha que ligar para minha irmã e comunicar e ainda mais o restante da minha família.
Foi quando lembrei do pior: “preciso avisar ao meu pai.” Na hora eu corri pela casa, procurei, gritei muitos: “Mãe! Onde você está?”, tantos que perdi as contas. Ela não respondia e tudo estava revirado. A minha casa não era mais minha, nada ali era como costumava ser. Certas coisas nem reconheci mais, certas tonalidades e cheiros, quem esteve aqui?
Foi então que me dei conta: minha mãe estava morta. Eu chorei tanto, gritava e não conseguia parar de pensar. Ao mesmo tempo eu sabia que aquilo era um sonho e que precisa acordar. Quando isso finalmente aconteceu, vi que era verdade. Não era apenas um sonho, eu havia acordado e todas as coisas não tinham mais sentido. Havia acordado, porém continuava tudo igual, como no sonho anterior.
Eu não sabia, não sabia mesmo! Na hora pensei em todas as contas que eu teria que pagar, pensei na ausência, pensei que não falaria mais “mãe” todos os dias e me senti sufocado com aquela quantidade de informações. A mulher que eu amo se foi, meu Deus! Como eu vou agüentar agora? O que vou fazer? Mais uma vez constatei aquilo que sempre soube, eu estava só, redundantemente sozinho e de novo e agora para valer.
Olhei para o céu em busca de respostas, de um raio, de um pássaro, mas nada! Nadinha! Lá estava aquele céu maravilhoso, cinza, da cor que eu mais gosto. Para a minha surpresa o mundo não tinha acabado, os carros continuavam circulando, as pessoas circulando e a chuva escorrendo, espalhando o cheiro da morte. Mas onde está o corpo? Como eu sei que não há mais vida? Meu Deus, será que é isso que eles chamam de provação? Seria Deus me testando? Mas eu lá tinha mais pacto algum com Deus.
Será que eu havia reatado os laços com o Pai sem saber? Por que então eu estava a chamar por Seu nome? Por que eu pedia respostas logo Dele. Puta que pariu, tanta gente para eu perguntar: médicos, enfermeiras, familiares, amigos... será mesmo que só ele poderia me dar a resposta? Pro inferno com isso! Me recuso a falar com esse Senhor! Não quero, porra, já disse, que fique cada um na sua.
Na hora veio um estalo, é isso! Você está ficando louco, aliás, eu estou ficando louco. Não há corpo, não há telefone tocando e nem a família no meu pé para me dar a maldita notícia. Deve ter sido tudo um sonho, então vamos acordar... Mas como, criatura, se eu já estou acordado? (ou pensava estar) O que eu perdi para não estar entendendo nada? Que decisões foram tomadas na minha ausência? Mas qual... se eu estava o tempo todo aqui.
A única explicação é que eu devia estar num coma profundo, sei lá diabos por que, mas eu devia ter acabado de acordar na casa minha, que não era mais a minha casa. Mas então, por que eu fiquei se todos se mudaram? Inferno! Eu não entendo nada, por mais que eu tente não dá, não consigo. Toda essa atmosfera está carregada demais, eu vejo pontos de interrogação em todos os cômodos e até na comida.
Comida? Ta bom, sai daí, se tem comida então é porque havia vida aqui, bem aqui. Então saiam logo de trás das cortinas e apareçam. Entendi, agora, é tudo uma cilada, vocês querem me pegar. Será que é meu aniversário? Bem, todavia, devia ser, senão eles não fariam toda essa armação para me pegarem desprevenidos. Sa-fa-di-nhos, não?
Nesse instante acordei com a voz dela me chamando: “Já são 13 horas, você vai se atrasar para o trabalho, menino, acorda logo!”. Só ali eu entendi que sonhei dois sonhos, um dentro do outro, e vi que nada tinha acontecido, graças a De... “olha a putaria, você não disse que tinha quebrado o pacto com Ele, então não invoque Seu nome”, pensei alto, alto demais!
Ao despertar lembro que eu ligava para as pessoas e contava: “Minha mãe morreu!”, mas ninguém vinha ao meu socorro ou parecia se importar, seja qual for o sentido desse sonho, seja qual a razão disso tudo, eu só sei que há muita coisa entre nós que precisa ser resolvida e que sem o amor de mãe seria impossível eu viver. Eu não saberia amar outra mulher dessa forma e nem quero. Ai, ai, ai, amor assim só para ela.
Se fosse possível passar uma borracha em muitas coisas do passado, talvez nós vivêssemos como manda a tradição, qual o nome daquilo mesmo? Ah sim! Viveríamos como mãe e filho, uau, não costumo usar muito este termo e nem pensar muito nele. Mas a verdade é que há coisas que nem sempre expressamos, mas que pensamos muito, que nos machuca muito e isso é uma delas. Talvez esse vazio enorme que eu sinta cada vez que termino um relacionamento, cada vez que alguém pisa na bola e cada vez que eu entro em crise... seja por esse motivo. Questões mal resolvidas podem destruir nossa alma e eu sinto que boa da minha já foi devastada nesse joguinho de orgulho.
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Um comentário:
fiquei agoniada daqui também.
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