quarta-feira, 25 de março de 2009

Cores

Poderia ter escolhido dentre todas as cores que existem no mundo, mas nenhuma transmitia tanta beleza e irradiava tanto carismo quanto aquele azul marinho. Não bastava apenas o simples azul, tinha que ser algo que o completasse e tinha que ser o azul marinho. Ele sentiu-se pela primeira vez como se aquela cor pudesse realizar todas as suas expectativas com relação a felicidade (coisa tão ouvida naquele dia). Não teve dúvidas, tirou as roupas, destravou todos os sistemas de segurança e deixou a cor invadir a sua vida e os seus planos para o futuro.

Pensava em se mudar e ter todas as paredes do novo apartamento pintadas de azul marinho. Foi as compras e comprou todas as peças daquela cor: azul marinho. Meteu na cabeça que aquilo era tudo que lhe faltava e que sem aquilo a vida não seria mais perfumada e acabaria frustrando-o. Voltaria a não ter sentido. Mais um dia, uma dessas chuvas amazônicas desbotou todo o seu guarda-roupsa e todas as paredes, tantos as sólidas quanto as emocionais.

Aquilo agora era apenas azul que não era capaz de lhe transmitir tudo aquilo que ele havia recebido nos últimos anos. Ele comprou nova tintura e procurou novas peças daquela cor que ele tanto amava. Mas teve uma surpresa ao constatar que elas agora só existiam na sua cabeça. Em sua loucura ele ouviu a cor responder e fazer juras de amor a ele... agora a cor havia sumido e o deixado sem entender como ia conseguir acordar com talvez um vermelho (que ele tanto odiava) ou quem sabe com um amarelo o rodeando.

Ele pensava em casar, criar filhos e cuidar para toda vida do brilho daquela cor. Foi a primeira cor que o fez pensar em filhos, foi a primeira cor que o fez se humilhar e jurar que entregaria até a sua alma se preciso fosse. Penso eu que quando tratamos certa coisa ou pessoa como algo vital e então ela se vai sem qualquer aviso prévio, acabamos perdendo o chão e aquilo não sai mais da cabeça. Como se fosse um câncer que não se pode apenas arrancar com as próprias mãos.

Esse sentimento agoniante e desesperado causa crises de choro, baixo-estima e falta de vontade de acordar para o mundo. É uma dor que não tem remédio ou cura, que causa seqüelas para sempre. O rapaz sentia exatamente isso e pensava mais: "E se algum dia eu reencontrar aquela cor na minha vida, como eu devo reagir? O que vai acontecer? Como você pode olhar para algo pelo qual eu daria a minha vida sem poder ao menos tocá-la?". Era o verdadeiro apocalipse para ele.

Acabou por dar mais valor aquela cor do que para si mesmo e quando ela lhe faltou, não sabia mais caminhar com as próprias pernas e se focar em outros horizontes que também precisavam da sua atenção e capricho. Ele diz agora que vai tentar se acostumar a ter apenas o azul e que vai tentar um dia procurar outra cor que possa lambuzar nas suas persianas. Mas, por enquanto, por hora... a única saída é o tempo, que ele espera que cure suas feridas e consiga fazeê-lo voltae a ser o que hora, apenas o branco e não mais azul marinho.

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