segunda-feira, 28 de julho de 2008

Rio Branco - Acre, 28 de julho de 2008.

Fantasma, hoje tive um dia ótimo, ótimo mesmo!
Sol, piscina, cerveja, meu cigarrinho, beijos, abraços, ótimas companhias!
Pela noite fui a trabalho pra expoacre, lá a presença de três pessoas me socaram o estômago - mãe, pai e sua irmã. Fantasma, a sua irmã que era de colo, agora já anda e tudo mais e sabe o que mais me deixou em choque? É que ela é a sua cara, eu fiquei seguindo os três com cabeça e olhos - sua mãe também é a sua cara. Me fez "um mal que é bom demais!", sabe? Mas a carinha dos seus pais, o vazio que você deixou, eu quis e não que eles me reconhecessem, até hoje tenho medo.

Sua mãe continua com a cara de "tô vivendo por viver", seu pai com aquela cara bem de pai mesmo, o porto, mas esse porto tá desabando aos poucos, eu vejo nos olhos dele. Sua irmã tá linda, é linda! Tem aquela mesma sua cara, infelizmente. Fora as duas datas de sempre, no dia das mãe eu também penso muito na sua mãe, penso em ir até a casa de vocês e inventar histórias sobre a sua vida, pra ela ter lembranças mais e melhores ainda sobre você. Apesar de nunca ter visto o local de tudo - garagem, quarto, casa - eu tenho certeza de como é tudo lá dentro, porque na minha cabeça é como se no dia eu tivesse estado com você e presenciado tudo sem nada ter feito.

Teve uma época, que por conta dessas minhas certezas, eu comecei a achar que tinha enlouquecido e realmente tivesse te matado, porque acredito, eu sei como foi tudo, as duas versões, a que eu sempre achei e a que me foi dita no ano passado e que por horas é a que eu tenho acredito mais, deixei a outra hipótese. Fantasma, eu escrevo essa carta pra dizer que: você foi e é muito amado por eles, se ajuda, se ajuda, se ajuda! Porque eles querem te ajudar, fica bem e dê um sinal a eles. Toda sua família ama muito você, no dia em que fui te visitar, encontrei com todos eles, sua madrinha chorou muito dizendo não acreditar na história do suicídio, o que me desnorteou completamente, deu vontade de dizer tudo que eu acho, tudo que eu penso sobre como tudo aconteceu, mas eu não podia e nunca poderei.

É a minha sina eu encontrar sempre com a sua família e tudo voltar com uma força monstruosa, como se toda aquela maldita dor voltassem com tudo, como um bicho que enfia suas garras na minha garganta contra a parede querendo me devorar. Fica bem, fica com Deus! Amém?

A última coisa, em breve eu chego aí, mas antes vou fazer mais algumas visitinhas, eu estou me destruindo aos poucos, meu caro! Eu estou vivendo por nós, eu quero intensidade, cansei de procurar essa tal qualidade. Talvez eu goste mesmo é do gasto, do estrago.

3 comentários:

Mayara Montenegro disse...

Que forte, desnecessário comentar. Só digo que de alguma forma eu prefiro a dor, ela nos provoca e incita bem mais que estar são. Gosto de ti tanto que te vivo, entre poucos que vivo. ;*

Irlla Narel disse...

Toda vez que eu sei disso, me dói. Pq detesto até mesmo a idéia de te ver sofrer. E fico lembrando de todas as coisas que já falei e que já ouvi sobre isso.
Lembra aquele dia, nós dois sentados na calçada lá do predio, fim de tarde...falando e falando sobre toda essa história e outras coisas que aconteceram..até a hora da tua aula acabar. Essa imagem nunca sai da minha cabeça, nem a conversa (L)

Daniela Andrade disse...

Denso. Mas me faz pensar em diversas coisas, diversas conversas que já tivemos. E me faz lembrar que intensidade é bom sim. Mas o que vale mesmo, meu caro, é viver. Porque também a viver se aprende. Deixe que siga. Deixe que sopre.

=*